No dia 05 de outubro de 1988 nascia a constituição brasileira, junto com ela o Estado do Tocantins. A nossa unidade da federação herdou uma área que representava em torno de 44% do estado de Goiás. Sessenta municípios e uma centena de povoados em situação de penúria, abandono e isolamento. O retrato bem próximo do sul goiano na década de 1960, estradas de terra, em precárias condições de uso, que somente permitiam o tráfego na estação seca. Na estação das chuvas, outubro-abril, a maioria dessas estradas ficavam em condições intransitáveis, apenas a rodovia federal Belém-Brasília, pavimentada em más condições, com pontes de madeira.
A energia tocada a motor a diesel, e o que pior apenas 40% dos domicílios tinham acesso a esse serviço. As casas eram de paredes de barro, cobertas de taipa e piso queimado. O lado pobre, como era chamado pela imprensa goiana, ficou com apenas 19% do efetivo rebanho bovino; a produção era artesanal, o ICMS representava somente 5% da arrecadação total de Goiás.
O quadro era desafiador, o ensino superior era privilegio de poucos, apenas 2 mil alunos em cursos oferecidos nas antigas faculdades de Filosofia e Ciências de Araguaína, Gurupi e Porto Nacional. A rede escolar insuficiente e inadequada fisicamente, além da escassez de profissionais, apenas 6% dos professores possuía curso superior completo.
Passada a euforia da criação, era necessário recuperar o tempo perdido. Na verdade tudo precisava ser feito, tínhamos apenas as riquezas legadas por Deus como o solo fértil, água em abundância, e um grande potencial energético. Além da generosidade da natureza que esbanjava riqueza, muitas delas ainda escondidas. Ingredientes que por si só serviram para atrair centenas de empreendedores de todos os cantos do Brasil, na bagagem sonhos, ousadia e esperança.
Hoje, duas décadas depois, podemos fazer um balanço e perceber quantos avanços conseguimos. Só para se ter uma idéia, a receita do ICMS tocantinense já representa 40% de Goiás, o rebanho bovino 40% em relação aos goianos. Além da quantidade, ganhou também em qualidade. Caiu bruscamente a mortalidade infantil, as taxa de natalidade e fecundidade. A expectativa de vida aumentou excessivamente e a taxa de analfabetismo foi reduzida pela metade.
Não foi só na melhoria dos indicadores econômicos e sociais que evoluímos. De quebra a região ganhou uma identidade própria, que não veio exclusivamente de Goiás, é uma mistura de nordestino com goiano, mineiro e sulista.
O Tocantins é um encontro de Brasis, de cores, raças, tradições e culturas, chega aos 20 anos, com seus 1.243 mil habitantes, distribuídos pelos 139 municípios, desse total 67% são natos, os demais são tocantinenses por opção. Independente da origem todos têm motivos de sobra para comemorar. Aliás terá muito mais, as estimativas do IBGE projetada para 2030, apontam que a mortalidade infantil atingirá apenas 13 crianças para cada mil nascidas vivas, a taxa de mortalidade alcançará a média de 1,8 filhos por casal, e a esperança de vida ao nascer chegará aos 77 anos – índices de países desenvolvidos.
Para quem acha que foi pouco, o Estado ainda proporciona um importante papel estratégico para o País ao abrir suas portas para passagem dos trilhos da ferrovia Norte-Sul, e exportar 91% de sua produção energética, colaborando com ascensão econômica da região centro–norte e dando suporte aos pilares para a industrialização.
* Júnio Batista do Nascimento, professor, articulista, membro do Instituto Cenog-Conorte e autor do livro: Tocantins: História e Geografia. E-mail: juniobatista@bol.com.br
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